PERGUNTAS E RESPOSTAS
fonte: Direcção-Geral da Saúde
1. O acidente nuclear vai ter repercussões fora do Japão?
A extensão das repercussões irá depender da radioactividade libertada para o ambiente e das condições meteorológicas locais, sendo especialmente importantes a direcção e velocidade dos ventos e a possibilidade de ocorrência de chuva.
De acordo com a informação disponível até ao momento, é pouco provável que os países vizinhos sejam afectados de forma significativa. De acordo com a informação mais recente, a área afectada é a zona num raio de 30 quilómetros da Central Nuclear de Fukushima-Daiichi, tendo as autoridades japonesas recomendado a tomada de medidas específicas.
2. Existe risco para Portugal?
O acidente nuclear ocorrido no Japão não representa riscos para o país. Por outro lado, em Portugal não há produção de energia a partir de reactores nucleares.
3. Se precisar de me deslocar à área afectada, que devo fazer?
O Ministério dos Negócios Estrangeiros, através da Secretaria de Estado das Comunidades Portuguesas, emitiu, a 16 de março, o seguinte alerta:
"Dada a situação no Japão, aconselham-se todos os cidadãos nacionais que, não tendo razões essenciais para permanecer no país, a considerar a possibilidade de saírem temporariamente do Japão ou a deslocarem-se para o sul do país, nomeadamente famílias com crianças e grávidas. Desaconselham-se todas as viagens não essenciais àquele país." (http://www.secomunidades.pt/web/guest/listapaises/JA)
Se não lhe for possível seguir este conselho, siga as instruções das autoridades locais na rádio ou televisão. Fique dentro de casa se ocorrer a passagem de uma pluma radioactiva.
4. Estive recentemente no Japão. Que devo fazer?
Para quem esteve no Japão após o início do acidente nuclear, não há até ao momento indícios de qualquer risco acrescido para a saúde. Mesmo nas zonas afectadas, não foram registados níveis de radiação que apresentem risco para a saúde.
No entanto, se tiver algumas dúvidas, pode contactar a Linha Saúde 24: 808242424.
5. Qual o papel dos organismos internacionais e nacionais?
No âmbito das Nações Unidas, a Agência Internacional de Energia Atómica é o organismo que coordena a resposta internacional a emergências nucleares.
A Organização Mundial da Saúde é responsável pela avaliação do risco para a saúde, fornecendo assistência e intervenções de Saúde Pública durante uma emergência nuclear.
Em Portugal, a resposta a uma emergência nuclear ou radiológica é coordenada pela Autoridade Nacional de Proteção Civil.
A Agência Portuguesa do Ambiente é a organização nacional que actua como ponto de contacto nacional para emergências radiológicas e nucleares ocorridas no estrangeiro, mantendo também em funcionamento uma rede de alerta (RADNET) com 13 estações de medição em território nacional.
A Direção-Geral da Saúde, além das suas competências como autoridade de saúde nacional, é também parte do sistema regulador nacional no âmbito da proteção radiológica.
6. O que é a radiação ionizante?
A radiação ionizante é aquela que transporta energia suficiente para provocar alterações ao nível dos tecidos biológicos (por ionização). Pode ser produzida por formas artificiais (geradores de raios-X) ou naturalmente com a desintegração do núcleo de determinados átomos radioactivos (que se desintegram, emitindo radiação), designados “radioisótopos”.
À medida que os átomos radioactivos se vão desintegrando, vão-se transformando sucessivamente noutros elementos químicos, até chegarem a um elemento estável. Desta forma, a quantidade de material radioactivo presente vai decrescendo ao longo do tempo. Ao tempo necessário para que a quantidade de um radioisótopo decresça para metade dá-se o nome de “semivida”. Esta semivida é característica de cada radioisótopo, podendo ir de algumas frações de segundo até milhões de anos.
A unidade de medida da dose recebida pelos indivíduos é o Sievert (Sv), que tem em conta o tipo de radiação e os efeitos produzidos em cada órgão do corpo.
Numa situação de emergência, e no que diz respeito à população, existem níveis de referência a partir dos quais se torna necessário tomar medidas específicas, de acordo com as orientações internacionais. A título de exemplo, se a população puder estar exposta a uma dose superior a 10 mSv (miliSievert), recomenda-se o abrigo. Se a dose for superior a 50 mSv, deverá haver evacuação da zona afetada.
7. Qual o grau de perigosidade do acidente para a saúde pública? A que radiação pode a população estar exposta num acidente deste tipo?
Os reatores nucleares deste tipo são construídos de raiz, com múltiplos sistemas de segurança intrínsecos. Um dos principais sistemas de segurança é a existência de um edifício de contenção que, sendo estanque, está desenhado para impedir fugas radioactivas significativas para o exterior.
No entanto, no caso deste sistema de contenção falhar, pode ocorrer a libertação de materiais radioactivos provenientes do núcleo do reator para o exterior, que incluem vários isótopos diferentes.
Os principais radioisótopos com risco para a saúde, em caso de acidente, são as variantes radioactivas do Césio (Cs-137) e do Iodo (I-131), que poderão ser expelidas para a atmosfera em nuvem (designada também por "pluma") radioactiva. Esta nuvem pode ser arrastada pelo vento e depositar-se no solo, podendo contaminá-lo.
A semivida do Iodo radioactivo (I-131) é de 8.3 dias, o que significa que, após esse período, a quantidade presente terá sido reduzida para metade, passando a valores residuais cerca de três meses após a libertação.
A semivida do Césio radioactivo (Cs-137) é de cerca de 30 anos, o que poderá justificar a adoção de medidas de limpeza e descontaminação das zonas afetadas, dependendo da quantidade libertada.
As vias de exposição da população a estes radioisótopos são três:
- Contacto directo com as partículas presentes na pluma radioactiva (ex: exposição externa da pele);
- Inalação de partículas radioactivas (ex: por respiração);
- Ingestão de partículas radioactivas (ex: a deposição no solo, que pode contaminar a cadeia alimentar).
No caso do acidente de Chernobyl, a dose recebida pela população evacuada (cerca de 115.000 indivíduos) foi da ordem de 30 mSv; saliente-se que um exame de tomografia axial computorizada (TAC) envolve, para o paciente, uma dose da ordem de 9 mSv.
8. Quais os efeitos a longo prazo da exposição à radiação?
A exposição a radiação ionizante tem efeitos específicos e, de uma forma geral, bem conhecidos, consoante a sua magnitude. A exposição a doses da ordem dos 1.000 mSv resulta em efeitos específicos na saúde, como a Síndrome de Radiação Aguda, danos na medula óssea (leucemia), danos no sistema nervoso central, queimaduras e cataratas. Estes efeitos são chamados "determinísticos" - sabe-se que irão ocorrer após exposição a determinada dose, aumentando a sua severidade quando esta aumentar.
Em relação à exposição a doses abaixo de 100 mSv, os estudos epidemiológicos demonstraram a ausência dos efeitos determinísticos referidos, mas revelaram um aumento do risco de cancro (risco é a probabilidade de ocorrência de um efeito). Este risco aumenta, de forma linear, quando a dose aumenta. No entanto, a sua severidade não aumenta com a dose recebida, aumentando apenas a probabilidade da sua ocorrência (efeito estocástico).
De acordo com dados recolhidos no passado numa emergência nuclear, foram registados aumentos de casos de leucemia alguns anos após a exposição. O risco de cancros sólidos apenas aumentou cerca de 10 anos após a exposição. A acumulação de Iodo radioactivo na tiróide fez aumentar o número de casos de cancro na tiróide na população, especialmente em crianças.
O impacto psicológico de uma emergência nuclear foi outro factor a ter em conta, sendo especialmente marcante no caso de Chernobyl.
9. Quais as medidas de saúde pública que devem ser tomadas para reduzir a exposição da população?
As medidas mais eficazes na redução da exposição externa à pluma radioactiva são:
- Evacuação da área directamente afectada;
- Recomendação à população das áreas mais afastadas para que fique dentro de casa durante a passagem da pluma.
No que diz respeito à exposição interna (por ingestão e inalação), as principais medidas a tomar envolvem:
- Proibição do consumo de vegetais, leite e derivados produzidos em zonas onde tenha ocorrido deposição. Estes devem ser substituídos por produtos importados de locais não contaminados.
- Administração de iodo estável (não radioactivo) sob a forma de comprimidos de iodeto de potássio, imediatamente antes da passagem da pluma radioactiva, de forma a impedir a absorção de iodo pela glândula tiróide. Esta medida é especialmente eficaz no grupo etário dos 0-18 anos e deve ser tomada de acordo com os critérios de emergência nacionais - a Agência Internacional de Energia Atómica e Organização Mundial de Saúde recomendam a distribuição de comprimidos de iodeto de potássio apenas no caso de a dose prevista para a tiróide atingir um nível de intervenção que o justifique.
10. O iodo estável (não radioactivo) protege da radiação? Como? Como deve ser administrado?
O corpo humano utiliza iodo nas suas funções fisiológicas. Este elemento é absorvido principalmente pela tiróide, que o utiliza para produzir hormonas. O objetivo da administração de comprimidos de iodeto de potássio é saturar a tiróide antes da exposição à pluma radioactiva, de forma a que esta deixe temporariamente de absorver Iodo (durante cerca de 24 horas). Desta forma, impede-se a acumulação do Iodo radioactivo (I-131) naquela glândula, evitando-se a sua irradiação. A existência prévia de comprimidos de iodeto de potássio faz parte do planeamento de emergência de uma central nuclear.
Dados recolhidos durante o acidente de Chernobyl demonstram que o Iodo radioactivo (I-131) representou o maior impacto na população, tendo sido diagnosticados mais de 5.000 casos de cancro da tiróide em crianças (0-18 anos de idade) devido à exposição àquele isótopo. As principais prioridades na administração de iodeto de potássio serão, portanto, crianças e mulheres grávidas. No caso das mulheres grávidas, a quantidade a administrar deverá ter também em conta a protecção da tiróide do feto.
Note-se, contudo, que os comprimidos de iodeto de potássio não protegem contra radiação externa ou contra radiação emitida por outros isótopos radioactivos que estejam presentes e que possam ser absorvidos pelo corpo humano. Por este motivo, há sempre necessidade de combinar esta medida com as mencionadas na questão anterior.
Dado que esta medida apenas é eficaz quando tomada imediatamente antes da exposição e também para evitar eventual contraindicação, a administração de iodeto de potássio apenas deve ocorrer no momento e nos locais indicados pelas autoridades.