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Imagem: STUART PRICE |
Muitos se têm insurgido contra o vídeo da organização humanitária Invisible Children, que tem como objetivo denunciar o genocídio infantil no Uganda e apanhar o principal responsável pelos crimes, Joseph Kony. O que é certo é que a campanha está a gerar polémica e os responsáveis já preparam um novo filme para responder às críticas.
Jacob Acaye e Joseph Kony têm andado nas bocas do mundo. O primeiro pertence aos bons, o segundo aos maus. Jacob, protagonista do vídeo Kony 2012 da organização humanitária Invisible Children, hoje com 21 anos, tem pedido justiça para as milhares crianças que foram raptadas por Kony e feitas soldados por mais de duas décadas.
Jacob foi raptado pelo exército de Kony, Lord's Resistance Army - LRA, e foi uma das poucas crianças que conseguiu fugir às atrocidades, não sem antes ter de assistir à morte do seu irmão. A história tem tocado milhões de pessoas, o vídeo já foi visto mais de 100 milhões de vezes (soma de todas as versões) e as doações para ajudar a capturar Kony não param de aumentar.
O militar é procurado pelo Tribunal Internacional por crimes contra a humanidade. Mas apesar dos inegáveis factos e da brutalidade do vídeo viral, um conjunto de pessoas tem-se insurgido contra a campaha da ONG por considerar que o filme é demasiado hollywoodesco, impreciso, simplista e pouco fala sobre o trabalho de caridade que está a ser feito há alguns anos no país.
Apesar de toda a atenção negativa, é consensual que o filme desempenha um papel importante na consciencialização da sociedade para estes problemas, e na forma como se pode pressionar os governos a tomarem decisões.
Mas, apesar do povo do Uganda agradecer a atenção dada a Kony, um oficial do exército ugandês contou à CNN que o grupo não representa uma ameaça real para o país há vários anos. "Boa mensagem... mas está 15 anos atrasada", contou a fonte.
Invisible Children acusada de manipulação dos factos
Várias pessoas argumentam que o filme manipula os factos e ignora os abusos cometidos pelo exército ugandês na guerra com o LRA. Em 2011, um trabalho da revista americana Foreign Affairs acusava a ONG de exagerar a escala de raptos e assassínios das milícias de Kony e de enfatizar demasiado o uso de crianças inocentes como soldados.
Num blogue de politica externa da revista um jornalista chegou mesmo a escrever: "Vamos direto a duas coisas: 1) Joseph Kony não está no Uganda e não se encontra lá há pelo menos seis anos, 2) os números dos combatentes do LRA estão, atualmente, no máximo na casa das centenas".
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Imagem: CNN |
Christiane Amanpour, da CNN, afirmou que a procura constante de Kony, o homem mais procurado pelo Tribunal Penal Internacional, significa que ele se tornou numa "força gasta" no Uganda.
"Os crimes contra as crianças foram cometidos em grande parte na década de 1990 e início de 2000, e porque as pessoas já o procuram há vários anos ele é realmente considerado mais uma grande ameaça agora na República Democrática do Congo", completou.
Ao mesmo tempo, algumas dúvidas têm sido levantadas sobre as intenções e a transparência da organização Invisible Children, que já ripostou dizendo que vai lançar brevemente um novo vídeo para responder às críticas. Há mesmo uma foto, datada de 2008, onde os fundadores da ONG americana seguram armas ao mesmo tempo que posam com membros do Exército de Libertação do Sudão, grupo armado que chegou a ser também acusado de violações dos direitos humanos durante o conflito de décadas com o governo do Sudão. (ver foto acima)
ONG acusada de gastar indevidamente dinheiro proveniente das doações
Outra questão controversa prende-se com as doações feitas à Invisible Children. Muitos têm acusado a organização de doar apenas uma pequena parte do dinheiro às reais causas ugandesas, mas a organização já veio explicar que se trata de um mal entendido.
Apenas 32% dos fundos foram gastos, em 2011, em serviços diretos, de acordo com o relatório do grupo. O resto foi gasto na produção do filme, salários, e despesas de viagem e de pessoal.
Jason Russell, co-fundador da Invisible Children e narrador do filme, disse à CNN que o grupo não é uma organização tradicional de caridade. "Nós não somos uma organização que faz um trabalho incrível no terreno se quiser financiar uma vaca ou ajudar alguém numa aldeia ... isso é apenas um terço daquilo que fazemos", disse Russell.
"Trabalhamos fora da caixa tradicional do que pensamos que é a caridade", disse à CNN. "Temos três filmes: o que é viral, o movimento, que é de voluntários reais em todo o mundo, e a missão - para parar Kony e reabilitar as crianças afectadas pela guerra através da reintegração, educação e construção empregos para a comunidade", explicou.
No barómetro que avalia a independência das organizações de caridade, Charity Navigator, a Insivisible Children teve uma avaliação global de três em quatro estrelas, mas apenas duas para "prestação de contas e transparência".